Já imaginou festejar o dia de São Valentim num restaurante em Lisboa com ‘bolinha vermelha’? Então saiba que na noite desta quinta-feira pode brindar o/a seu/sua mais que tudo com 'preliminares', 'vias de facto', uma 'orgia campestre' ou um 'orgasmo tântrico' - um menu bem apelativo. Abriu a 10 de fevereiro de 2017 o espaço onde só entram clientes maiores de 18 anos. O Notícias ao Minuto teve a oportunidade de entrar numa das portas mais sensuais da capital portuguesa, ser servido por empregadas com um body negro bastante decotado, ajudadas por outro colega não mais vestido, tronco nu, boxers e botas pretas. O espaço que outrora foi uma loja de fotografia acabou num imóvel devoluto. Foram precisos 150 mil euros para hoje existir no coração de Lisboa um restaurante erótico, que já tem o seu ‘embrião’ no Porto há 13 anos. A sala tem capacidade para 80 lugares, está decorada com cortinas vermelhas de veludo, mobiliário preto, luzes de discoteca e, claro, no centro de tudo, o tão emblemático varão. O restaurante oferece três modalidades de menu: o Silver, o Gold e o Premium. Os preços variam entre os 27,50 e os 70 euros e em todos há a hipótese de se escolher entre um prato de peixe, de carne, ou vegetariano. No final, a sobremesa está garantida – e para este Dia dos Namorados pode contar com um ‘Gostas pouco gostas’, que se traduz num 'love heart' de frutos vermelhos. Entretanto, à margem da comida... Chegando à parte da sobremesa inicia-se um espetáculo que promete não o deixar indiferente e que começa pelo convite lançado a cada mesa para que um convidado dance no varão - chamam-lhe o 'quebra gelo'. Dê asas à imaginação porque nem os pés de chumbo se livram de alguns segundos de fama no ‘palco principal’ do restaurante. Depois seguem-se quatro shows, duas mulheres e dois homens com fantasias clássicas, como colegial, marinheira, enfermeira, polícia, cowboy e bombeiro. E como é normal neste tipo de espetáculos pode sempre gratificar os bailarinos e os empregados. Para isso tem de trocar euros pela moeda do The Lingerie. São notas, tipo dólar, custam 1 euro cada, e pode prendê-las no soutien ou nas cuecas do/a empregado/a que quiser. Mas não sem antes lhe pedir autorização e lhe indicar onde pretende colocar a gratificação. Os clientes são ainda brindados com um espetáculo a dois: dois strippers, um homem e uma mulher, sobem ao palco e, juntos, fazem uma performance onde o erotismo é elevado ao expoente máximo. E vale mesmo tudo? Definitivamente, não. É sempre pedido aos clientes que não toquem, nem façam nada que os bailarinos ou empregos não queiram. Já o contrário é definido pelos clientes. Cada um tem na sua mesa uma moldura onde coloca visível um de três cartões: verde, amarelo e vermelho. Os clientes são o seu próprio semáforo. O verde indica que os bailarinos podem aproximar-se à vontade da mesa, o amarelo refere-se a uma aproximação moderada e o vermelho é um repelente. À conversa com a responsável do negócio em Lisboa, Filomena Francisco, ficámos a saber que alguns excessos já foram cometidos: desde mordidelas de clientes a strippers, nas zonas do pescoço e das ancas; algumas cenas de ciúmes que extravasaram mais do que deviam, mas, no final de tudo, o balanço é claramente positivo e os lucros são substanciais. Despedidas de solteiros, partidas de amigos para o estrangeiro, aniversários... aqui até se celebram divórcios. E as imagens (percorra a fotogaleria, clicando na imagem acima) convidam a uma noite diferente em que, definitivamente, todos os sentidos são colocados à prova. "Atirem-se de cabeça; o varão é vosso" "Atirem-se de cabeça; o varão é vosso". Esta é a sugestão de Raquel para quem está a dar os primeiros passos no mundo do strip. Bailarina erótica há seis anos, está no The Lingerie Restaurant há dois, desde o primeiro dia em que abriu as portas na Avenida António Augusto de Aguiar. Nunca fez formações na área; assume-se como autodidata. Foi com recurso ao YouTube que foi aprendendo alguns 'moves' depois de um amigo, ainda nos tempos de escola, lhe ter lançado o repto para integrar um show de strip que teria lugar numa festa de uma discoteca que estava a ultimar. Pese embora nunca tivesse pensado em dar o primeiro passo, Raquel confessa que ser bailarina erótica lhe estava no código genético: "Sempre disse que ia ser stripper". E chegado o momento de pisar o palco pela primeira vez, recorda que os nervos marcaram presença, mas assim que ouviu os primeiros acordes da música, qualquer evidência de ansiedade dissipou-se. "Era como se sempre tivesse feito aquilo", relembra em declarações ao Notícias ao Minuto. Foi com total transparência que Raquel deu início ao seu percurso profissional nesta área e este é, de facto, o único caminho que conhece e do qual não abdica. "Sempre pus as cartas na mesa", assume, explicando que não teve dúvidas na hora de contar à família e amigos. Aliás, a jovem de 29 anos já subiu ao palco com a mãe e, juntas, protagonizaram um show de strip. E é também de forma transparente que Raquel, ao longo dos últimos seis anos, entrou nos seus relacionamentos. Numa relação há cerca de um ano, o namorado da bailarina erótica é perfeitamente conhecedor do mundo que a rodeia e isso não constitui nenhum óbice. Aliás, foi precisamente no mundo do strip que se conheceram. Mas nem sempre foi assim, já que Raquel se cruzou, em tempos, com parceiros a quem era difícil explicar a sua ocupação. "Já encontrei pessoas a quem é difícil passar esta mensagem justamente pelo desconhecimento", explica. O preconceito em relação ao strip, efetivamente, ainda existe. Esta é a opinião de Raquel que, quando entrou neste mundo, achou que conseguiria mudar mentalidades. Mas cedo percebeu que a questão não era assim tão linear. "Não vejo mal nenhum [no strip]. Acho que a maldade está na cabeça das pessoas. Quando comecei achei que ia mudar o mundo. Contudo, com o decorrer do tempo vais percebendo que há coisas que fazem algum sentido, não aqui no Lingerie porque o ambiente é super tranquilo. Mas em clubes de strip há mulheres que denigrem a imagens umas das outras. É um ambiente mais pesado", confessa. Enquanto bailarina, Raquel nunca foi alvo de "reações mais traumáticas" que a chocassem. Mas já assistiu a clientes "tocarem nas mamas" de colegas. Porém, na sua opinião, esses cenários dependem da atitude da/o stripper. "Eu imponho um braço de distância. A primeira coisa que digo nas 'tables' ou nas 'lap dances' é 'não podes tocar' e o homem fica mais retraído e respeita". Já as mulheres, confessa, "têm um bocadinho mais de dificuldade em controlar-se" [risos]. Mas esta não é a única ocupação de Raquel, cujos dias são preenchidos com a realização de massagens. A jovem, porém, anseia ir mais longe, estando neste momento a concluir a especialização em Osteopatia. Questionada sobre se no futuro se vê a abandonar a dança no varão para se dedicar em exclusivo à vertente de medicina não convencional, Raquel é perentória: "Sim". "Neste meio há três tentações" Tem 42 anos, mas a aparência atlética não o denuncia. É bailarino erótico há quase 15 anos e já percorreu, como se diz na gíria, 'os quatro cantos do mundo'. Falamos de David, que integrava um grupo de strippers que atuava no México e em toda a Europa, sendo que os salões eróticos onde participava eram bem distintos da realidade nacional. "Além de as feiras eróticas serem muito diferentes, onde há inclusive sexo, a mentalidade também é muito distinta", confessa. Apesar de já contar com uma longa carreira de stripper, 'mister David' - como é apelidado no The Lingerie Restaurant -, não tem histórias "traumáticas" para contar, apenas algumas peripécias: "Havia mulheres que me atiravam com cuecas", recorda, acrescentando que "as pessoas nunca abusam demasiado porque, hoje em dia, fica tudo gravado nos telemóveis e as pessoas têm receio". Não faz do strip a sua única ocupação e, apesar de ainda não se sentir 'na idade da reforma', pondera deixar a profissão daqui a dois/três anos. Na bagagem levará as memórias de uma vida em que deu o máximo para conquistar o público com as suas personagens. Umas vezes vestido de polícia, outras de bombeiro, David encarna uma personagem sempre que sobe ao palco. Já quando a despe, volta a ser David: "tímido, introvertido, envergonhado, que não gosta de falar nem de tirar fotografias". No quotidiano, evita que o associem à posição de stripper, porque se pensa logo "em gajo de gajas e não é nada disso. Eu namoro, tenho um filho com dois anos e não sou nada mulherengo", garante. Se o filho um dia quisesse seguir os passos do pai, David não hesitaria em apoiá-lo, não obstante tivesse medo que este caísse numa de três tentações: "Droga, mulheres e dinheiro". Informações importantes a reter: Endereço:Av. António Augusto de Aguiar Nº88A R/C Superior, 1050-018 Lisboa Horário:De domingo a terça-feira encerrado quarta-feira: 20h30– 1h00 quinta-feira: 20h30– 1h00 sexta-feira: 20h30– 1h00 sábado: 19h00–22h00, 22h15– 00h00 Preçospodem variar entre os 27,5 euros e os 70 euros consoante a escolha do menu (Silver, Gold ou Premier); Espaço sem zona de fumadores